terça-feira, 25 de setembro de 2007

Reflexões no caixa do supermercado.

Outro dia estava no supermercado a fazer umas comprinhas. Para minha surpresa à hora da saída não havia fila no caixa. Enquanto punha as compras sobre a esteira ouço a caixa falar com um colega de trabalho, um pouco distante donde estávamos, sobre a possibilidade de alguém vir rendê-la. Terminado o atendimento do único freguês à minha frente, a caixa muito prontamente liberou a esteira e pôs-se a digitar minhas compras. Tudo feito numa coordenação eficiência e rapidez que me fez chamar a atenção. Para que toda aquela presteza não fosse em vão, prontamente me dispus no mesmo ritmo a ensacar as compras e pô-las no carrinho, realmente admirado da agilidade com que a mocinha manipulava e fazia as digitações no caixa. Ao terminar de digitar minhas compras eis que a mocinha levanta-se da cadeira, vira-se para a colega que havia chegado ao seu lado e diz: “Pronto! Agora é só fechar!” E saiu apressadamente do caixa para que a colega o assumisse. Só então pude perceber que toda aquela agilidade e eficiência (pois ela, apesar da rapidez, não errou nenhum item) eram por ela estar louca de vontade de ir ao banheiro! Isso me fez pensar nos nossos dias, parece que constantemente sofremos de uma crônica e generalizada urgência miccional. Vivemos como se sempre estivéssemos apertados para ir ao banheiro. Eu mesmo tenho tentado controlar minha sensação de ao estar em algum lugar, achar sempre que deveria estar em outro. Ao estar assistindo um programa, estou deixando de assistir vários outros! Ao parar para ler um livro, deixo de ler vários outros! A diversidade infinda de alternativas e possibilidades de mobilidade, de escolhas e de comunicação nos dão uma falsa sensação de onipresença que só nos deixa mais e mais neuróticos. Vide o doentio hábito de se ficar trocando e re-trocando os canais da TV no controle remoto ou navegar freneticamente pelas páginas da internet como quem aprisionado numa sala de espera de dentista a folhear a esmo e impacientemente uma revista Caras. Como já foi dito em blogs passados (não meus, mas passados), é necessário estar sempre bêbado. Deixar-se tomar por um certo torpor e lentidão próprios da embriaguez. “Para não sentirdes o fardo horrível do tempo, que vos abate e vos faz pender para a terra ...” Esforçar-se por estar no movimento contrário ao que nosso século nos compele. Estar mais afinado com o movimento errático do bêbado. Sair de uma vez da sala de espera do dentista.



Meus cachorros dormindo sobre a mesa do micro. Evidência de como a informática pode ser entediante.

3 comentários:

Didática - Professor Márcio disse...

Muito bom, me parece a idéia da quantidade de artigos e textos que pedimos no google e aí não conseguimos ler e nos dá uma ausência e uma presença de incontinência intelectual, estamos sempre devendo alguma coisa, mas os cachorros seres irracionais nos dão a dica de como se deve viver...muito bom Celso

Raquel disse...

Pior é que é! Dá a maior inveja dos bichinhos nessas horas... Eles simplesmente não têm problemas!
rsrsrsrs

Anônimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado